Mãe do mês por Nicole Azevedo de Oliveira

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Para encerrar o ano com chave de ouro, a mãe convidada deste mês é uma “menina” que conheci quando tinha a mesma idade do meu filho mais velho, que brincava de bonecas e dava a elas meu nome (não esqueço isso!). Nosso carinho é recíproco desde aquela época. Tornou-se mãe na adolescência, enfrentou o preconceito e o medo, mas passou por cima das adversidades da vida e tornou-se uma mulher incrível. Com vocês, Mãe do mês por Nicole Azevedo de Oliveira.

Ni, muito obrigada por ter aceito o convite e compartilhar com a gente algo tão pessoal e especial quanto sua vida e sua maternidade! Sou sua fã (e não é de hoje!).

“Ser mãe exige mais atributos que idade.”

Nicole Azevedo de Oliveira

PESSOAL

Sou Nicole Azevedo de Oliveira, tenho 27 anos, sou de Barueri/SP, formada em jornalismo e produtora de um programa de televisão. Sou mãe da Ana Clara de 8 anos e esposa do Diogo. Filha da Ana Angélica e do Robson, e irmã do Murilo.

Mãe do mês - infanciaMãe do mês - jornalismo
Mãe do mês - casamento com Ana ClaraMãe do mês - com mãe e irmão

Tenho muitos amigos, sou uma mulher feliz e realizada, apesar de ter muitos sonhos a serem realizados ainda, mas nem sempre foi assim. Essa história começa lá atrás…

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

A gente nunca acha que acontecerá conosco, dentro da nossa casa. No vizinho pode ser… Mas, comigo, não!

“Você viu, a filha do vizinho que engravidou adolescente?! Claro, não se cuida!”

Até que vem o destino e prova que pode acontecer com a filha do vizinho, pode acontecer na novela das 8 e pode acontecer com você também. Uma pessoa esclarecida, de família estruturada e cheia de planos.

Quando somos adolescentes não medimos as consequência, sequer sabemos o peso da responsabilidade. A sensação de invencibilidade nos dá coragem sem medidas. Coragem essa que me fez encarar a gravidez sem pensar em aborto.

Eu tinha 18 anos, a gravidez não tinha sido nada planejada, ainda fazia faculdade, o namoro não era saudável, estava no meu primeiro emprego (o que quer dizer que estava longe de ter estrutura financeira para criar um filho), tinha acabado de tirar a habilitação e poderia viajar quando quisesse, fazer intercâmbio, conhecer pessoas, lugares, culturas, não ter hora para chegar e ir para festas e mais festas e… e… e…

“Parabéns?”, falei para o Doutor. “Você sabia que tenho 18 anos? Como me dá o resultado seguido de um parabéns?” Saí do laboratório indignada e liguei para minha mãe antes mesmo de ligar para o pai da criança: – “Mãe, preciso falar com você” (com voz embargada de choro). Assustadoramente ela responde: – “Nicole, você está grávida” (só quem é mãe entende).

Confesso que a hipótese do aborto passou pela minha cabeça, mas, sem muita explicação da minha decisão (até porque teria o apoio da minha mãe qualquer que fosse ela) optei por encarar o desafio.

Foi difícil, foi preciso força, coragem e muito amor. Eu não tentei absolutamente nada contra minha gravidez! Passei por coisas simples, como ver as amigas saindo, até questões mais profundas, como criar uma criança sem a estrutura familiar “perfeita”, mas tem coisas que não se explicam e por isso evito entrar em discussões sobre o assunto.

O amor que senti por minha filha desde os primeiros minutos que sabia que ela estava ali, foi maior que o medo, maior que a falta de estrutura emocional, maior que tudo.

Mãe do mês - gravidezMãe do mês - Ana Clara bebê

Claro que sempre pude contar com minha mãe e isso fez toda a diferença. Não parei a faculdade, não deixei de trabalhar e Ana Clara sempre teve tudo, mas a escolha foi minha.

Mãe do mês - com mãe e filhaSer mãe é a coisa mais intensa e especial que já aconteceu em minha vida. E mesmo com 18 anos eu entendi que, na minha história, tinha que ser naquele momento. Apesar do namoro que era adolescente, instável e sem consistência, mesmo assim, encarei.

O salário não dava pra fazer compra no mês e mesmo assim fui corajosa. As amigas pensavam na faculdade e eu em fraldas e mesmo assim não baixei a rédea. Segui firme na minha decisão e quando peguei Ana Clara nos braços pela primeira vez, tive a certeza de que tinha tomado a decisão mais importante de toda a minha vida.

Mãe do mês - Ana Clara casamentoA MATURIDADE E A MATERNIDADE

Depois de ter encarado a situação, as coisas só deram certo, e isso não foi por acaso.

Foi na licença maternidade que começaram a aparecer os primeiros sinais de uma maturidade precoce: a decisão pela mudança de curso. Fazia Direito porque haviam me dito que dava dinheiro e tinha campo de trabalho, mas percebi que não tinha nada a ver comigo e eu não tinha mais tempo a perder, então, fiz jornalismo porque acreditava, mais do que nunca, que as coisas só dariam certo se fossem feitas por amor e o jornalismo é minha grande paixão desde a infância.

A faculdade com Ana Clara não foi fácil, aliás, ser mãe já não é uma tarefa fácil, imagina ser mãe adolescente! Meus peitos enchiam de leite durante as aulas e eu tinha que sair da sala para tirar. Isso me marcou muito. Chegava em casa meia noite e Ana Clara, com meses, já entendia onde tinha vindo parar e me esperava acordada!

Assim fomos criando nossa cumplicidade.

Mãe do mês - aniversário 4 anos Ana ClaraMãe do mês - aniversário 5 anos Ana ClaraMãe do mês - aniversário 6 anos Ana Clara

No segundo ano da faculdade já consegui um emprego na área de jornalismo que, alguns anos depois, foi onde conheci o meu atual marido. Um cara sem filhos, que abraçou minha história, minhas dores e, principalmente, minha filha. Com quem divido a casa, os sonhos e que aceitou (sem nunca questionar nada) se juntar a mim na criação da minha filha, fazendo o papel de pai, já que o pai biológico é bastante ausente.

Mãe do mês - casamentoMãe do mês - casamento com Ana Clara2

Costumo dizer que as coisas só deram certo depois da Ana Clara. Minha vida clareou, criei motivo, força, vontade. .. Ela mudou os meus caminhos e confesso que nunca imaginei que seria para melhor.

Ela sempre entendeu todas as minhas ausências e eu nunca fui de reclamar da vida: abracei o desafio que me foi imposto e lutei pela felicidade. A minha e a dela, que é uma menina inteligente, saudável e feliz!

Não lamento por nenhuma balada perdida, pelos quilinhos a mais que ganhei ainda jovem, sequer me lembro das noites acordadas sozinha com ela nos braços. Hoje a minha recompensa vem em forma de amor sem medidas e gratidão pelo destino por ter me escolhido, ainda tão jovem, a enxergar a vida de outra maneira. A enxergar a vida com mais humanidade, mais amor, mais luz, porque esse é o maior presente que recebemos ao dar a luz. Enxergar a vida, mais vida.

OPINIÃO PESSOAL SOBRE O ABORTO

Acredito muito em Deus e isso faz de mim uma pessoa mais emocional, daquele tipo que acredita na força do acaso, de que tudo já estava escrito e todas essas coisas que os ateus riem quando ouvem.

Todas as minha amigas também esqueciam de tomar o anticoncepcional e deixavam de lado todos os perigos de transar sem camisinha, mas fui eu que engravidei.

Decidi agarrar a batalha que me foi dada e fiz dela um mar de rosas.

Mesmo sabendo que minha realidade é bem diferente de outras por aí, que minha mãe me apoiou o tempo todo e eu já não tinha 5 filhos. Mesmo nunca tendo passado fome e ter tido a oportunidade de estudar, eu não acho que o caminho é o aborto.

Acredito na prevenção e educação. Educar, principalmente os jovens, para que se previnam e tenham ideia do que é estrutura familiar e planejamento.

Não quero levantar nenhuma bandeira, mas sou muito feliz por não ter optado pelo aborto.

 

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