A vida tem me dado muitos presentes e o principal deles é a oportunidade de conhecer! Conhecer pessoas, vidas, histórias, dificuldades, deficiências, … E como eu cresço e aprendo com tudo isso. E a mãe entrevistada deste mês não poderia ser outra. Eu a conheci numa ação de inclusão de autistas (o Pupanique idealizado pela Andréa Werner Bonoli do Blog Lagarta Vira Pupa e fiquei totalmente encantada com sua garra, disposição e força de vontade para lutar pelos direitos de seus filhos. Com vocês, MÃE DO MÊS por GREICE VERRONE, entrevista com mães que inspiram.
A Greice é mãe de três lindos garotos (um deles é filho de coração, como lerão adiante) e dois deles são autistas. Vejam que incrível esta história de vida que, como ela mesma finaliza, é muita coisa para apenas 40 anos de idade.
Greice, muito obrigada pela oportunidade de conhecermos um pouco da sua trajetória.
PESSOAL
Meu nome é Greice Verrone, tenho 40 anos, sempre gostei de estudar, me formei em Administração, fiz pós graduação, MBA, também fiz psicologia e trabalhei na área financeira durante 22 anos. Hoje minha vida profissional mudou completamente: fui estudar moda e me formei modelista, trabalho com criação de roupas esportivas e sou colunista de um blog de moda.
Minha mãe morreu quando eu tinha 2 anos, não tive uma infância feliz, amadureci muito rápido e acabei me casando com 16 anos. Tive meu primeiro filho quando terminei minha primeira faculdade aos 22 anos. Continuei dedicada aos estudos, ao trabalho e também ao meu filho, que só me dava orgulho: aos 2 anos o Gui aprendeu a ler, tinha uma inteligência acima da média, se destacava na escola, tinha amiguinhos e era avaliado pelos psicólogos como uma criança prodígio, com QI acima da média.
O AUTISMO EM NOSSAS VIDAS
Foi legal, mas eu não ficava deslumbrada com o assunto, tinha um pressentimento de que alguma coisa estava errada, e realmente estava: aos 6 anos meu filho foi diagnosticado com Síndrome de Asperger, um grau de autismo que preserva sua inteligência pedagócia, mas que traz muitos problemas na sua inteligência emocional. Minha maior característica sempre foi a resiliência, e como não podia ser diferente, segui em frente oferecendo ao meu filho todos os tratamentos disponíveis para que ele se desenvolvesse da melhor forma.
Quando completei 30 anos decidi engravidar novamente e aí veio o Dudu, o bebê mais lindo que eu já tinha visto. Minha vida profissional seguia muito bem, meu filho mais velho progredia a cada dia, meu filho mais novo era maravilhoso e saudável, mas meu casamento tinha acabado. Em meio à separação, recebi uma notícia que mudaria minha vida para sempre: o Dudu, aquele menino, dono do sorriso mais lindo que já vi na vida, tinha autismo clássico, com auto grau de comprometimento. Pela primeira vez na minha vida, eu perdi o chão e não sabia o que fazer.
Aos quatro meses percebíamos que havia algo errado e com um ano tive o diagnóstico confirmado.
Pulei algumas etapas do luto e fui logo seguindo em frente, correndo, porque eu tinha pressa, tinha que consertar tudo, tinha que dar certo. Trabalhando como uma louca, proporcionei aos meus filhos todas as terapias que estavam ao meu alcance para que eles pudessem se desenvolver. Sozinha e seguindo sempre em frente.
O TERCEIRO FILHO E A FAMÍLIA COMPLETA
Quando minha vida estava a 520 km/h, e eu achava que tinha o controle sobre tudo (jamais imaginei encontrar alguém, afinal, quem se envolveria com uma mulher que tem dois filhos deficientes?), eu conheci o Maurício, nos apaixonamos e vivemos um amor avassalador! Me casei e uma nova vida começou.
Meu marido era pai solteiro e eu ganhei mais um filho, o Pedro, que tem quase a mesma idade do meu filho mais velho. Vida nova, uma nova família formada e, então, eu perdi meu emprego e fui diagnosticada com câncer de mama.
O susto foi grande, mas vencemos! Tivemos que passar por uma reeducação financeira, cortamos custos, revisamos os hábitos e hoje eu trabalho menos e sou mais dedicada à minha família.
O Gui está com 17 anos e vai prestar vestibular no final do ano. O Pedro tem 15 e vai se formar no ginásio. É meu grande parceiro, melhor amigo do Gui, e me ajuda muito a cuidar do caçula, o Dudu, que está com 9 anos: a alma mais evoluída que eu já conheci, com o sorriso mais lindo do mundo, só faz o bem, e é o xodó da casa, todos nós cuidamos dele.
O Dudu se desenvolve no seu ritmo, nos ensina novas lições todos os dias. Atualmente, até pela nossa condição financeira, ele faz acompanhamento com psiquiatra, com uso de medicação, e frequenta uma escola pública em sala de inclusão, que ele adora. Notamos uma grande evolução nos últimos seis meses.
A relação entre o Maurício e o Dudu é fora do comum, eles se amam de outras vidas.
Somos uma família muito unida e juntos nós aprendemos a ser felizes hoje com o que temos e com quem somos. Nossa…. muita coisa prá quem só tem 40 anos, né??!! (risos)