Relato de parto natural após 3 cesáreas – VBA3C

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parto natural

Os relatos de mães que recebo sempre trazem uma carga de energia boa, arrepios e emoção, mas, lendo este, eu chorei, fiquei arrepiada, me enxerguei em diversas palavras dele e quase morri de felicidade ao ler o desfecho deste lindo relato de parto natural após 3 cesáreas – VBA3C por Sheila De Vitto Lamussi!

Sheila, muito obrigada por partilhar este momento tão especial com a gente e mostrar para tanta gente como é bom lutar por um sonho e vê-lo sendo realizado. E ainda, mostrar que é possível, SIM, ter um parto natural depois de 1, 2 e até 3 cesáreas!

A Dra. Betina, que ela menciona quando relata seu quarto parto, foi a obstetra que trouxe ao mundo, de maneira normal e natural, Théo e Estela! Pensa na minha felicidade lendo este relato, gente?!

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Leia também: RELATO DE PARTO NATURAL HUMANIZADO DOMICILIAR – SEGUNDO PNAC (OU VBAC)

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Tive um parto normal depois de 3 cesáreas!

#1 Um pouco sobre a Sheila

Meu nome é Sheila De Vitto Lamussi, tenho 42 anos, sou médica veterinária, AMO animais, crianças e natureza. Sou companheira e parceira do Gustavo, meu marido, não de “papel passado”, mas de “papel presente” 😊.

Também sou mãe! Da Bruna, da Luíza, do Pedro e da Clara. Isto! 4 filhos. Sou adepta da alimentação saudável, sempre que possível comemos produtos orgânicos e somos cuidados pela médica da família, Dra. Adeli, que me ajuda a traçar esse caminho tão importante e lindo na minha vida.

Sou filha do Francisco, contador por formação, mas que já fez de tudo nessa vida e continua fazendo e querendo aprender coisas novas sempre, até hoje, mesmo com 70 anos. Atualmente ele planta produtos orgânicos!

Filha da Célia, professora de inglês, que faleceu em 2010, devido ao câncer… Muito triste perder a mãe… Eu estava grávida do Pedro na época, meu terceiro filho. Ela era uma pessoa maravilhosa!

Vou conta um pouco para vocês sobre meus partos. Em especial, o quarto! Minhas gestações não foram planejadas, mas foram todas saudáveis!

Considero hoje que sofri violência obstétrica nas duas primeiras devido a minha falta de informação. Mas, a vida e os filhos vão nos ensinando. E como aprendemos com eles, não é mesmo?!

#2 Primeira gestação e a cesárea

Na primeira, da Bruna, hoje com 13 anos, não tive muita informação sobre gestação, parto, bebês, então acreditei em tudo que falavam. Médico, convênio, palpites (aliás, como tem gente que entende de gravidez, né? 😊 ).

O médico da época, além de me falar já nas primeiras consultas que eu não tinha passagem para um parto normal, pois eu era muito magrinha, insistiu para que eu fizesse o parto na maternidade do convênio, mesmo o meu plano cobrindo outras melhores que eu pudesse escolher (provavelmente porque ele receberia mais por isso).

Passei mal umas semanas antes e acabei sendo internada no São Luis (que não era a que ele queria) e ele queria fazer uma cesariana, pois eu estava numa maternidade que tinha uma UTI neonatal ótima e que eu poderia ficar tranquila! Mas, graças a equipe do hospital, as enfermeiras disseram que a bebê estava ótima e que não era hora ainda. Decidi, pela primeira vez esperar. Fui pra casa e a Bruna só foi nascer 4 semanas depois. Cesárea, lógico, pois segundo o médico, eu não tinha passagem, e era sexta feira a noite!

#3 Segunda gestação e a cesárea

Na minha segunda gestação, o obstetra, também do convênio, mas outro, pois raciocinei e resolvi mudar, disse que poderíamos tentar parto normal, sim, após uma cesárea. As consultas eram legais, ele conversava bastante, tirava dúvidas conosco sobre os cachorros dele, afinal, eu e meu marido somos veterinários, ríamos, enfim, estava tudo indo “bem” até que com 38 semanas, durante a consulta, ele nos disse: “Bom, vamos marcar uma cesárea, então, pois já está com 38 semanas e nenhum sinal de parto (a Bruna nasceu com 41 semanas e nenhum sinal de parto também).

Questionamos isso e a resposta dele foi (A-T-E-N-Ç-Ã-O!): “Olha, isso aqui não é cachorrinho ou gatinho que você pode ficar brincando. É sua filha! Se demorarmos muito pra fazer esse parto, pode dar problema para ela. Você quer que ela aprenda a falar com 10 anos de idade?”

Oiii????

Saímos de lá e nunca mais voltamos. Fiz meu acompanhamento final com plantonista da maternidade e o parto (cesárea também), por insegurança, com uma obstetra que parecia simpática. Foi ruim, a anestesia péssima, fiquei com dores de cabeça e me sedaram no final. Não consegui ver quase nada.

A Bruna ficou no berçário da maternidade por 9 horas sem que eu tivesse notícias dela, e a Luiza por 6 horas. Essa situação foi horrível. Senti que minhas filhas foram arrancadas de mim e eu estava de mãos atadas. Isso gerou uma frustração enorme em mim e um desejo imenso de ter um parto normal!

#3 Terceira gestação e a cesárea

Quando engravidei do Pedro, pedi uma indicação de obstetra para a nossa médica da família, que fizesse um parto diferente. Que minhas escolhas fossem respeitadas, afinal de contas é meu corpo e meu filho que estamos falando. Assim, conhecia a Dra. Cátia e a equipe. A Dra. Sandra, pediatra receberia meu filho na plataforma de chegada, como ela diz.

Me informei, tirei todas e mais um pouco das minhas dúvidas, e me senti pela primeira vez segura das minhas escolhas. Senti que estava sendo cuidada por pessoas extremamente capacitadas, que sabiam MUITO o que estavam fazendo. Li livros, artigos a respeito de um parto normal após 2 cesáreas, tive uma doula que foi até minha casa, mas a situação se complicou quando no quarto mês de gestação perdi minha mãe. Fiquei sem chão. Além disso tive que ir atrás de inventário, brigas na família, enfim, não foi legal.

Não me lembro muito da gravidez. Ela simplesmente passou e eu não vi. Quando chegou a hora do Pedro nascer, a bolsa rompeu e eu fiquei 42 horas em fase inicial de trabalho de parto que não evoluiu. Não tive dor, fui almoçar fora (com a bolsa estourada), fiz acupuntura para ver se aumentava a dilatação, mas cheguei a 4cm e EU optei em fazer cesárea, pois a obstetra esperaria até 72 horas de bolsa rota. Lógico que fui monitorada o tempo todo pela equipe.

Pedro nasceu de parto via alta, como eu prefiro dizer, pois foi na hora dele, eu sabia que ele estava pronto pra vir. Ele nasceu e em seguida ficou em meus braços, todo “sujinho” colado no meu peito, meu marido cortou o cordão umbilical assim que parou de pulsar, ele mamou nas primeiras horas, tomou banho na sala do parto, meu marido quem deu o primeiro banho, não saiu de perto da gente nem por 1 segundo. Foi lindo e perfeito. Emocionante! Mas, minha frustração em relação ao parto normal e a certeza de que esse sonho não seria mais realizado ficou na minha cabeça.

#4 Quarta gestação e o parto natural – VBA3C

parto natural

No susto, engravidei da Clara. Aos 40 anos, 3 cesáreas, Zika vírus e muitos outros medos.

Sabia que desta vez fariam uma cesariana. Cogitei até em fazer uma laqueadura após o parto já que eu estaria lá mesmo… Ainda pensei: “vou ter que omitir uma semaninha de gravidez, pois irão agendar esse parto com 38 semanas com certeza e, pelo menos, o bebê nasce com 39 semanas”.

Mas, procurei a Dra. Cátia, que ficou muito feliz com a noticia da gravidez, e me deu os parabéns! Sério! Quase ninguém te dá parabéns depois do segundo filho! A maioria fica boquiaberta e normalmente cochicha quando você vira de costas, imagina do quarto.

Voltando…

Saí da consulta feliz, pois a Dra. Cátia me disse: “quem vai anunciar o momento do parto é o bebê”. E perguntei: “Mas, e aí? Vou fazer a cesárea, né?” Advinha a resposta??? “Aí você decide”. Esta frase dela marcou muito, pois dessa vez eu me senti livre para decidir o que seria melhor para mim e para a Clara.

Ela me recomendou leituras, artigos científicos, tudo sobre VBA3C (Vaginal Birth After 3 Cesarean) – Parto Vaginal após 3 cesáreas. Vi que algumas mulheres passaram por esta situação, que aqui no Brasil é quase que proibido, mas que fora do país essa é uma decisão da mulher. Vi que o risco de ruptura uterina era de 2%, e me apeguei aos 98% de sucesso, afinal de contas, quando lidamos com vida, nada nos dá 100% de garantia.

Lógico que tinha que ser hospitalar, pois havia esse risco. Coloquei na minha cabeça que eu queria ter um parto e que eu sentisse tudo. Sabia desde o começo que não poderia tomar anestesia, pois ela mascararia qualquer sintoma de ruptura uterina. Procurei ajuda da psicoembriologia que uma amiga indicou no IBCP, e  fiz algumas sessões durante a gestação.

Foi muito bom, pois pude me conectar com a Clara e também com o parto. Tive uma maior consciência do meu corpo feminino, preparado para o parto. Eu queria tentar e sentir tudo acontecer com o MEU corpo. Também queria que fosse tudo rápido, pois a demora me deixaria preocupada.

  • Rompimento da bolsa

Então, com 39 semanas e 6 dias, às 22h do dia 04 de abril de 2016 ,após um dia agitado, deitei na cama e senti um “PLOC” na minha barriga, e um líquido começou a sair. Liguei para a enfermeira obstetriz, Ana Paula, que acompanhava e ela me orientou por telefone a fazer uns testes pra ver se era a bolsa que havia estourado e era isso mesmo. Pediu para que eu  tentasse descansar, pois esperaríamos até 72 horas sem problemas com a bolsa rompida. Porém, às 23h (em ponto) as contrações começaram a vir. Pedi ao meu marido para que contasse os minutos e elas estavam vindo exatamente a cada 5, 4 minutos.

Liguei novamente para Ana que disse que estava tudo bem e que se eu estava conseguindo falar, era porque dava para esperar. As contrações começaram a ficar um pouco mais fortes e como a Ana disse, realmente eu não liguei mais. Quem ligou foi meu marido, que correu na farmácia para comprar um Buscopam, que segundo ela se não fosse trabalho de parto, as contrações parariam. Mas, não pararam! Então, eu, nesse momento, não queria mais conversa com ninguém.

Finalmente, conheci a tal Partolândia que eu tanto queria!

O Gustavo conversou com a Ana, que veio para nossa casa às 2h da manhã. As contrações começaram a ter mais força e eu vi o tampão sair. Percebi que não tem nenhuma regra ou ordem a ser seguida. A bolsa rompe antes ou não do trabalho de parto. O tampão sai antes ou durante o trabalho de parto.

Pedi pra que a Ana fizesse um exame para ver se eu estava com dilatação. Ela me alertou que talvez eu ficasse frustrada com isso, mas mesmo assim quis saber. Frustração: 1 cm. As contrações continuaram e eu fui para o chuveiro algumas vezes, deitei, não conseguia andar muito e ela me deu duas opções: ir para a maternidade as 5:00 ou as 10:00 quando o trânsito diminuísse, pois moramos em Barueri e teríamos que pegar a Castelo Branco e a marginal Pinheiros no horário de pico. Eu achei melhor sairmos às 5h, pois me sentiria mais segura dentro da maternidade.

Liguei para o meu pai e pedi para que ele viesse ficar com as crianças e antes de sair a Ana pediu para dar mais uma examinada, mas não me falaria a evolução da dilatação para que não houvesse outra frustração, afinal de contas eu estava tendo contrações mais intensas. Ela contou para o meu marido: 2cm (ainda bem que eu não fiquei sabendo!).

  • A ida para maternidade

Colocamos no waze e a previsão era de que chegaríamos na maternidade em 28 minutos.

Caminhei com dificuldade até o carro, forramos o banco com uma toalha e eu não consegui ficar em nenhuma posição confortável. Meu marido tenso, dirigindo e a cada lombada ou buraco, um gemido. A Ana foi no carro dela logo atrás e comentou que algumas vezes no carro balançando, a dilatação poderia evoluir.

Chegamos na maternidade às 6h30 e fui com dificuldade passar pela triagem. A médica que me atendeu, não muito simpática, fez o exame de toque e falou pra Ana: “ela tem 3 cesáreas, está com bolsa rompida desde às 22h e você estava fazendo o que com ela em casa?” A Ana respondeu: “a médica dela está sabendo de tudo. Quanto está de dilatação?” 8cm!!! Nessa hora pensei: “agora eu vou conseguir”. Sabia que depois de oito, para chegar na dilatação máxima faltava pouco. Naquele momento vagou uma sala de parto normal, chamada Delivery Room e me levaram para lá.

Fiquei na banheira deitada e minhas contrações vinham cada vez mais fortes. A nossa médica estava a caminho, mas o trânsito já era intenso. Enquanto isso, a médica da sala ao lado, Dra. Betina, que acompanhava um outro parto, veio nos ajudar a pedido da Dra, Cátia. Aí eu percebi que algo estava acontecendo na maternidade. A Dra Betina falou baixinho: vai, ajuda esse bebê nascer logo que está rolando um stress aqui no hospital.

  • A triste realidade hospitalar brasileira

Neste momento entraram na sala umas 5 pessoas do hospital, médicas e enfermeiras, dizendo que eu teria que ser retirada daquela sala, pois minha gravidez era de risco e eu deveria ficar no centro cirúrgico.

Estava tudo bem, as contrações rítmicas, já estava com dilatação total, dava pra ver a cabecinha da Clara e começando o expulsivo.

Meu marido virou para  a equipe do hospital e disse: “ninguém aqui põe a mão nela, a não ser a Dra. Catia ou a Dra Betina!”

Todos se assustaram e disseram que a responsabilidade era do hospital até que a médica chegasse. Fui levada de cadeira de rodas para o centro cirúrgico e naquele momento percebi várias pessoas me olhando, saindo pra fora das salas para me ver passar. Entramos no centro cirúrgico e rapidamente a Ana e as enfermeiras diminuíram as luzes da sala, e prepararam o ambiente pra que ficasse o mais tranquilo possível. Nessa hora, minhas contrações perderam o ritmo. Parece que houve um bloqueio, devido ao stress.

A Dra. Cátia finalmente chegou, o anestesista da equipe estava de prontidão, a Dra. Sandra pediatra também. Aí me acalmei (ufa!). O médico responsável pelo centro cirúrgico foi conversar com a Dra. Cátia que estava muito nervosa com a situação. Ela estava sendo pressionada e obrigada a fazer uma cesariana pela direção do hospital mesmo sem indicação nenhuma.

Meu marido tomou frente a situação e disse que não queríamos fazer cesárea, e as palavras que me marcaram nesse momento foram “ Sheila, não desista do seu sonho!”

Ele disse que confiava no trabalho da equipe e que assinaria um termo se fosse necessário.

O médico do centro cirúrgico foi muito atencioso, tentou nos acalmar e disse que o que precisássemos estaria ali fora de prontidão. Aliás, parece que todos estavam do lado de fora torcendo pra que tudo desse certo.

  • O nascimento natural da pequena Clara

parto humanizado pai cortando cordão umbilical

Decidido, então, continuamos o trabalho de parto, a sala foi preparada, aquelas janelinhas do centro cirúrgico cobertas por um papel, escreveram na lousinha “Bem vinda Clara”, e voltamos à Partolândia.

Não consigo me lembrar exatamente de quanto tempo isso durou, mas lembro de retomar o parto e tivemos que dar uma acelerada no processo com a ajuda do vácuo extrator. Então, a Clara nasceu! No meio dessa confusão, ela chegou às 8h56, lindamente. Teve apgar 10, ficou no meu peito, cansadinha, dormindo, e eu parecia que tinha corrido uma maratona 😊 . Vi a placenta, me movimentei, participei.

Tudo passou, veio uma sensação maravilhosa de termos conseguido, eu e ela, cada uma fazendo a sua parte.

Se todas as mulheres pudessem e soubessem como é prazeroso sentir seus hormônios agindo naturalmente, a boca seca da ocitocina, as endorfinas que produzimos para aliviar as dores, a adrenalina no final, a sensação de bem estar é indescritível!

Sem intervenções de hormônios sintéticos, analgésicos, epidurais.

Realizar este sonho foi muito importante. Consegui preencher o meu feminino, parece que fechei um ciclo que estava aberto em mim.

5 COMENTÁRIOS

  1. Que historia linda, Edilene!
    Eu fui em busca desse VBA3C, mas mão tive apoio. Ngm da familia, e mesmo dos medicos. Fui atrás de 2 equipes humanizadas e inclusive uma doutora bambambam mandou uma msg p mim dizendo q eu correria risco de vida e q a umica pessoa q toparia fazer esse parto seria o Jorge Kuhn (profissional q meu bolso não tem como bancar). Enfim, meu sonho de parto normal ficou só no sonho, mas incentivo quem eu posso a batalhar pelo normal.

    • Milene! Que pena, né? Mas, esta é a realidade brasileira Como você percebeu, não só o Jorge Kuhn faria isto, mas acho que cada um temos nosso tempo e uma vontade superar que reina em tudo isto. Agora, nosso papel de influenciadora, é trazer os relatos para que outras mulheres não tenham este desfecho. Beijos e obrigada por comentar!

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