Relato de parto natural humanizado domiciliar

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Se você chegou até aqui porque tem interesse conhecer mais sobre partos naturais e domiciliares e quer saber como aconteceu com outras mulheres, mas esbarra na cultura brasileira (o número de cesáreas chegou a 85,5% em 2015 segundo informações da ANS e gráfico abaixo) que deixa a população insegura sobre suas opções e escolhas, então leia meu relato de parto natural humanizado domiciliar e veja como mudou minha vida e transformou minha opinião sobre este assunto.

Um trecho do parto da Estela – assista e se inscreva no Canal!

Meu primeiro contato com a humanização e o parto domiciliar

Eu não era uma mulher muito com o nascimento via cesariana do meu primeiro filho, mas tentava me convencer de que era o destino e havia sido melhor assim. Agora, minha amiga Cibele Oliveira e Oliveira não só não era satisfeita com sua cesariana como resolveu mudar radicalmente este quadro quando engravidou do seu segundo filho.

EU ERA TOTALMENTE CONTRA O PARTO DOMICILIAR!

  • Achava uma loucura as mulheres que o desejavam ou o faziam;
  • Sentia muito medo de algo dar errado e não ter a “proteção” de um hospital;
  • Não sabia como lidaria com a situação se algo saísse fora do planejado.

Minha amiga Cibele, ciente desta opinião e da possibilidade que tinha de estar com ela durante o parto, alertou que poderia ser hospitalar ou domiciliar, mas que faria no hospital. Eu, grávida de 10 semanas do Théo, meu segundo filho, descobri que o parto seria domiciliar quando a mãe dela pediu para que eu fosse para lá, pois o pequeno Caetano nasceria aquele dia.

Não consigo explicar meu sentimento e sensação: tremia, fiquei nervosa, chamei minha amiga de inconsequente, mas não a abandonaria naquele momento.

Hoje posso afirmar com todas as letras que, depois do nascimento dos meus filhos, foi o momento mais lindo que já presenciei em toda minha vida! Ver aquele bebê nascendo na água, indo direto para o colo da mãe, amamentando nos primeiros minutos de vida, e acompanhar a rotina da casa depois daquele parto, foi algo indescritível! E não canso de agradecê-la por ter me permitido viver este momento!

Comparei meu primeiro parto (impossível não fazê-lo), lembrei daquele ambiente hospitalar e da separação do meu filho por quase 6 horas, e resolvi mudar o destino do meu próximo parto (do meu próximo filho e o meu): não pensava em domiciliar, mas queria aquele respeito todo que acompanhei lá. Respeito ao corpo da mulher, ao momento de parir e ao bebê que estava chegando.

Minha decisão pelo parto domiciliar

Théo nasceu num hospital. Fomos acompanhados por uma equipe de parto humanizado – meu primeiro PNAC (ou VBAC), mas foram muitas horas para engrenar o trabalho de parto, pedi anestesia e ele nasceu na cama.

Mais uma vez não era a mulher mais satisfeita com o parto, mas era plena quanto aos cuidados com meu filho e isto me bastava, ATÉ QUE engravidei da Estela, uma gravidez não planejada como já escrevi AQUI e que tive a certeza de vinha para completar meu sonho de maternidade.

Assim, decidi que ela nasceria em casa. Era meu segundo parto normal, já tinha uma médica competente e da minha total confiança (a GO Betina Abs) trazendo muita segurança para esta decisão.

Verão de Janeiro de 2014. Aproximadamente 38 semanas e 2 dias de gestação. Eu havia completado 34 anos alguns dias antes.

Os maiores impasses tinham ficado para trás (até a hora de nascer, existe a possibilidade de se tornar hospitalar e é importante estar ciente disto):

  • Estela só virou com 36 semanas de gestação (SIM! É POSSÍVEL! Mas, ainda assim, no  ultrassom com 36 semanas, aparecia na transversal, mas com a cabeça já bem próxima da posição cefálica – CLIQUE AQUI e entenda mais sobre este assunto)
  • 3 dias antes do parto, num exame de toque,  a Betina havia sentido sua cabeça (confirmou a posição cefálica);
  • Neste mesmo dia (do exame de toque) tinha 2 cm de dilatação (representou uma vitória depois das quase 30 horas para o Théo nascer).

Preparativos

Sentia-me plena depois desta consulta (uma terça-feira) e a certeza de que ela chegaria em breve causou a Síndrome do Ninho. Saí com uma lista razoável do consultório com os itens a preparar para o parto domiciliar e no dia seguinte, quarta-feira, pedi que minha mãe fosse comigo e os meninos (afinal, estavam de férias) providenciá-los.

Aquilo que não consegui comprar, ficou para o meu marido fazer no dia seguinte (quinta-feira). Faltava somente uma luminária e a vitamina K.

Mas, a Estela não quis esperar.

Início do trabalho de parto – período latente

Por volta das 00h30 da sexta-feira decidi desligar o celular e dormir. Sabia que ela poderia chegar a qualquer momento, mas não acreditava que seria aquele dia.

Umas 4h acordei com uma sensação estranha e indescritível. Achei que era vontade fazer xixi. Fui ao banheiro e voltei para cama. Mas, não conseguia adormecer e tinha algo incomodando. Por volta das 4h30 fui ao banheiro novamente e tive muita vontade de fazer cocô.

Confesso que fiquei muito aliviada, pois a intenção era que nascesse na piscina inflável e não queria sentir vontade na hora do parto.

Depois disto não conseguir dormir mais. Passei a observar minhas sensações e logo notei que as contrações estavam começando. Às 5h30 avisei meu marido, beijei meus filhos, acendi uma vela, fiz uma oração e pedi muita proteção a Deus para que ele fizesse sempre o que era melhor para todos os envolvidos. Só de lembrar sou tomada por uma emoção que faz lágrimas rolarem em meu rosto.

Mandei uma mensagem para a Betina avisando das contrações e que entraria para o chuveiro na tentativa de espaçar (ou até zerar) as dores.

Para minha surpresa, fui tomada por outra dor de barriga tremenda e quando entrei no chuveiro as dores vieram avassaladoras. Não lembrava de ter sentido tais dores em 30 horas que fiquei no hospital aguardando o parto do Théo. Hoje eu sei que passei da fase inicial para a ativa em poucos minutos.

Como na última consulta havia perguntado para a Betina em que momento deveria chamá-la e a resposta foi: “assim que começarem as dores, pois o segundo parto normal costuma ser mais rápido que o primeiro”, às 6h meu marido ligou, avisou das dores e ela disse que já estava vindo.

Às 6h30 a Maíra Bittencourt chegou em casa. Obstetriz (popularmente conhecida como parteira) e assistente da Betina, fez os primeiros procedimentos: tentou me acalmar, ouviu o batimento cardíaco e mediu a dilatação. Às 7h chegou a Betina.

Minha família, onde estava?

Quando meu marido ligou para a Betina também ligou para minha mãe que em 15 minutos estava em casa.

Os meninos dormiam. Théo (2a4m) acordou por volta das 7h30 (meia hora antes da irmã nascer) e ficou na casa de uma vizinha. José Carlos (5a11m) acordou às 8h30 (meio hora depois de nascer) porque minha mãe o acordou.

Meu marido se dividia entre me ver no chuveiro, tirar a cama do quarto (havíamos combinado que encheria a piscina inflável no nosso quarto), encher a piscina, entre outras coisas que fazia que eu não tenho a menor ideia (risos).

Tadinho! A piscina foi enchida e quando começava a encher, Estela nasceu. Não quis esperar e nasceu no chuveiro mesmo.

Minha mãe quando chegou foi organizar a cozinha, me servia ameixas geladas, água de coco ou suco, e auxiliava a Betina (e a casa) no que precisavam.

Como evitei contar para muita gente minha intenção sobre o parto domiciliar, meus maiores espectadores eram os vizinhos do condomínio que levaram o maior susto: sexta-feira, hora de levantar para trabalhar e uma doida grunhindo para parir (risos).

Fase ativa

Eu me preparei para aquele momento com toda minha força, vontade e determinação! Decidi que me entregaria àquele momento, deixaria meu lado racional, soltaria minha voz e viveria intensamente.

Foi o que fiz!

Programei que ficaria em cima da bola de pilates e fiquei!

Programei que cantaria 3 músicas (Como é grande meu amor por você – Roberto Carlos, Fico assim sem você – Adriana Partimpim e Reconhecimento – Isadora Canto) e cantei. Não concluía nenhuma, mas cantava entre uma contração e outra (risos).

Programei que soltaria a língua, relaxaria a boca e falaria longos “as” durante as contrações (li bastante que isto ajuda a relaxar e dilatar). Ah! Estes “as” foram aos poucos virando urros, gritos, virei uma leoa e libertei meus melhores instintos femininos e maternos!

Lembro também de ter falado para a  Betina que não conseguia parar de gritar (onde já se viu a senhora controlada não conseguir se controlar?) e ela respondeu: “é para gritar, senão não sei em que fase você está”. Daí em diante os gritos só aumentaram (risos).

Fase expulsiva

É fácil hoje identificar a fase expulsiva: nos intervalos entre uma contração e outra, eu cantava, dormia, perdia a consciência… era muito louco! Lembro que quando passava a contração eu encostava no vidro do box e apagava. Quando ela voltava, gritava: “ah! De novo” e colocava toda minha força para fora através dos meus gritos e mãos (esmurrava as paredes, agarrava o registro do chuveiro ou a mão da Betina – estava era a melhor, pois quando segurava me dava muita força).

Neste momento (imagino que fosse em torno de 7h40) meu corpo sentia vontade de fazer força, como se fosse fazer cocô, mas eu tinha a sensação de medo da dor e não fazia.

Num determinado momento (entre uma contração e outra, porque durante não tem como falar nada) falei para a Betina que estava com vontade de fazer força e ela disse: “então faça”.

Este momento não tem controle! Não importa se você quer ou não fazer a força, ou se tem medo da dor, o seu corpo faz o que tem fazer!

Fiz força umas 2 ou 3 vezes junto com as contrações e na próxima ouvi um barulho muito alto. Achei que tinha “expulsado” minha filha e ela tinha sido arremessada para o chão (risos), mas era o rompimento da bolsa e muito líquido esparramado.

Na próxima contração, mais uma força e a cabeça da minha pequena apareceu. Às 8h02 seu corpinho saiu para as mãos da Betina e logo veio direto para mim pesando 3,350kg.

Pós parto na minha casa

É indescritível ter parido na minha casa, embaixo do meu chuveiro e depois ir para minha cama, ficar entre amigos, familiares e, principalmente, não ter que deixar meus filhos (uma das maiores preocupações das mulheres que já têm filhos!

Saímos do chuveiro direto para cama (não era a minha cama ainda porque tinha sido desmontada para colocar a piscina – risos). Minha filha foi amamentada nos primeiros minutos de vida. A cólica foi intensa neste momento e logo “pari” a placenta. Como lacerei, precisei de uns 3 pontos que a Betina e a Maíra fizeram com anestesia local.

Papai cortou o cordão umbilical pela segunda vez!

E minha filha foi amamentada na primeira hora de vida!

Neste dia não saí do quarto por precaução. Morava em um sobrado e a Betina achou melhor não descer escadas, nem sair da cama desacompanhada, mas me senti muito bem o tempo todo, graças a Deus.

Depois do almoço o Théo veio nos fazer companhia e dormimos os 3, juntinhos.

Final do dia pedi meu computador ao marido e protocolei um recurso que tinha deixado pronto no dia anterior (vantagens do parto normal e de parir em casa).

O Cacá, pediatra e neonatologista, nos visitou no dia seguinte. Mediu, avaliou, deu dicas de cuidados, ensinou como limpar menina (afinal, tinha 2 meninos), tirou algumas dúvidas e a Estela retornou ao pediatra após 30 dias.

Gratidão

Só posso agradecer a Deus pela oportunidade concedida!

Agradecer ao meu marido pelo apoio incondicional. Sem seu apoio, isto não seria possível.

Agradecer a Estela por ter me escolhido para trazê-la a este mundo e ter colaborado tanto em seu nascimento: apressada, forte e decidida.

E se posso escrever algo para te ajudar é: VOCÊ É CAPAZ!

  • Seu corpo é capaz!
  • Você nasceu para parir! Não importa o que te falem, é possível!
  • Procure profissionais que defendam a humanização (mesmo que seja parto hospitalar ou uma cesárea necessária) e que te passe confiança, esclarecendo todas as suas dúvidas;
  • Confie em você;
  • Leia muitos relatos, assista vídeos de parto ou programas em canais como o Discovery Home&Health para ajudar na sua segurança.
  • Leia o livro Parto com amor.

Espero que tenha gostado, que tenha te ajudado e por favor: conta pra mim se te ajudou ou se tem alguma dúvida deixando seu comentário no formulário abaixo.

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